sexta-feira, 20 de março de 2009

Retrato XXVI

Ele não conseguia dormir.
Ficava pensando nela em Pasárgada com ele.
Ele, eu digo, o outro. O nosso ele protagonista
é o que não faz parte, sofre a perda,
sente dor, quer chorar,
mas está seco.

Insone, fecha os olhos
e ouve o diálogo,
as vozes refletindo sorrisos, o beijo,
o sexo cru e fétido de dia inteiro,
a roupa de cama sem lavar,
as migalhas de pão e vinho ao lado
e o suspirar quase ofegante
dela.

Ele não vai
conseguir dormir enquanto souber que nesse minuto
ela suspira e se prende a ele, ali,
na janela ao lado,
ou Pasárgada.

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